segunda-feira, 1 de março de 2010

A Misteriosa Civiliação tartéssica

Nos finais do século XVIII, o erudito antiquário D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas-Boas, bispo de Beja, recolheu as primeiras inscrições onde se encontra gravada a escrita ibérico-tartéssica. Desde essa época várias tem sido as tentativas para ler estes textos, os quais, porém, tem permanecido indecifráveis até a actualidade. Alguns investigadores supõem que os caracteres são de origem fenícia; outros afirmam que a língua gravada nestas inscrições deriva do grego pré-clássico; outros ainda crêem que se trata de um idioma de origem peninsular, aparentado com a língua de que deriva o actual basco.

Durante mais de um século, e apesar de terem sido recolhidas algumas dezenas de inscrições, ignorou-se a sua função, facto que mais dificultou qualquer tentativa de decifração do texto. A partir de 1970, porém, os arqueólogos portugueses conseguiram localizar, no Sul do País, um grande número de monumentos funerários, onde foram recolhidas algumas destas inscrições. Foi assim levantada uma ponta do véu que cobria este problema: as misteriosas inscrições são lápides funerárias. A localização e estudo destas necrópoles veio permitir a identificação da área ocupada por este povo com o Sul do Baixo Alentejo e Algarve. Desconhecia-se também a época em que teria florescido esta civilização. Escavações realizadas nestes monumentos permitiram situá-los entre os finais do século VIII e o século V a. C. e o apogeu desta civilização deve ter-se verificado entre os séculos VIII e V a. C.

Nas sepulturas foram encontradas armas de ferro, cerâmicas de origem mediterrânica, jóias fenícias, anéis com escaravelhos egípcios, todos objectos provenientes do Mediterrâneo Central e Oriental.

Porém, a atribuição desta cronologia levantou outro problema.

Quem era o povo que, entre os séculos VIII e V a. C., desenvolveu uma cultura tão brilhante nos confins ocidentais do mundo Mediterrânico?

As fontes clássicas apenas referem, no que respeita a Península Ibérica, o reino de Tartessos, que a maioria dos arqueólogos pretende localizar na zona da bacia do Guadalquivir. Curiosamente, esta civilização entrou em declínio no século VI a. C., logo após a Batalha de Alalia, onde os Cartagineses derrotaram os Gregos, vedando-lhes a passagem para ocidente das Colunas de Hércules.

Nessa época, segundo os autores clássicos, tem inicio o ocaso da civilização tartéssica.

Estamos, portanto, perante um mistério ainda por decifrar se se trata de vestígios do reino de Tartessos, onde se encontram as suas cidades? Se, por outro lado, se trata de uma civilização diferente da tartéssica, quem foi o povo que a originou, um povo que no século VIII a.C. possuía já uma escrita e que não é mencionado nas fontes clássicas?

Apenas o prosseguimento das investigações poderá, no futuro, dar resposta a estas perguntas.

Portugal secreto

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