sábado, 26 de fevereiro de 2011

Atlântida, terra misteriosa

Existiu na realidade o continente perdido da Atlântida ou a narrativa da destruição de uma ilha paradisíaca poderá ser apenas um conto moral? A história da Atlântida foi contada pela primeira vez por Platão como uma parábola para exemplificar como o Céu castiga os que adoram falsos deuses. Porém, simultaneamente, Platão sugere a autenticidade da narrativa, que servia a reminiscência de um terrível cataclismo, transmitida oralmente ao longo de centenas de anos. Mito ou realidade, a lenda da Atlântida tem inspirado uma pesquisa constante ao longo dos séculos; e muitos são os caminhos que levam aos Açores.

Num fim de tarde de 3500 anos antes de Cristo, o Verão no mar Egeu, calmo e longo, aproxima-se do seu termo. Os raios do Sol, no ocaso, incidem sobre uma ilha minúscula de recorte circular quase perfeito, tão bela com o seu vulcão ocre emergindo de um mar violeta que mesmo entre as ilhas do mar Egeu sobressai pela sua beleza. As andorinhas riscam o céu, volteando no poente rubro. A leve brisa da tarde agita os ramos das oliveiras. No porto reina a calma, agora que as tarefas do dia terminaram. Os pescadores regressam a casa com as suas presas brilhantes e prateadas. As ruas estreitas enchem-se de gente, que conversa e ri. Sentadas nas soleiras das portas, as mulheres tagarelam, enquanto das inúmeras olarias da cidade se ergue o alegre chiar da roda do oleiro. Terminado o dia de trabalho, os homens deixam os pomares e as vinhas e dirigem-se para casa. As sombras alongam-se em uníssono com a noite que cai. Então um calor estranho e sufocante envolve a cidade. O mar torna-se cor de chumbo. Das entranhas da terra vem um ruído surdo e abafado, intermitente primeiro, continuo em seguida. Os habitantes são tomados de pânico. Pressentem que o grande vulcão, cujo pico de cerca de 1500 m domina as suas vidas, está prestes a entrar em erupção e o deus que no interior do vulcão rege as forças que abalam a terra acordou do seu longo sono. No entanto, os habitantes não poderiam imaginar, ao abandonarem precipitadamente as casas levando consigo apenas alguns haveres apanhados à pressa, que a sua cidade, a ilha e também toda a sua civilização estavam prestes a ser destruídas por um cataclismo vulcânico que, segundo provas reunidas por vulcanólogos e sismólogos de épocas posteriores, é considerado como um dos mais violentos jamais ocorridos. Primeiramente surgiu um penacho de fumo negro e sufocante. Depois, entre explosões deflagrando de cone, desabou uma terrível chuva de pedra-pomes incandescente, seguida de cinzas. No auge do cataclismo o próprio vulcão, sujeito a enormes pressões internas, explodiu. Com um fragor que ecoou nos confins do Mediterrâneo (ou no Atlântico) e que certamente teve ressonâncias de fim do Mundo, grande parte da ilha desfez-se em pó. Finalmente, a câmara de magma sob o vulcão esvaziou-se, vomitando milhões de toneladas de rocha sólida – e o enorme vulcão abateu-se sobre si próprio, formando uma caldeira ou cratera de encostas abruptas de cerca de 60 km de perímetro. O mar precipitou-se nesse vazio, trazendo na sua esteira ainda mais horrores – os gigantescos tsunamis, maremotos desencadeados por tremores de terra ou erupções vulcânicas, que são provavelmente as mais aterradoras forças da Natureza. Ondas de cerca de 200 m de altura irradiaram da ilha, atingindo os litorais próximos com uma violência nunca igualada. Eis a sequência dos acontecimentos que destruíram a ilha há 3500 anos, tal como os cientistas de hoje a imaginam. Esta explosão, segundo os seus cálculos, produziu uma força destruidora equivalente a 500-1000 bombas atómicas. Uma terrível escuridão, provocada pela densa chuva de cinzas, caiu sobre o mar Egeu, (ou no Atlântico) mergulhando-o numa noite que se prolongaria por semanas. Durante algum tampo, a cinza continuou a cair e ainda hoje se encontram depósitos dela, designados por tephra, a mais de 60 m de profundidade sobre o que resta da ilha denominada Kalliste pelos antigos gregos. Actualmente, os cientistas crêem que o sucedido em Kalliste poderá constituir a chave para o enigma que tem preocupado historiadores e geógrafos desde os tempos do filósofo grego Platão (c. 427-347 a. C.). Platão, um dos fundadoras do pensamento ocidental, foi a nossa única fonte directa no que diz respeito a lenda da Atlântida e o seu relato fragmentado do continente tragado pelo mar ainda hoje excita as imaginações. A Atlântida de Platão era uma espécie de paraíso: uma grande ilha, «maior que a Líbia e a Ásia em conjunto» (Nesse tempo ainda não se conheciam as verdadeiras dimensões dos continentes) – com imponentes cadeias de montanhas, planícies luxuriantes onde proliferavam todas as espécies de animais, incluindo elefantes, e exuberantes jardins onde os frutos eram «belos e prodigiosos e em número infinito». Abundavam os metais preciosos, especialmente o mais apreciado pelos Antigos, o fabuloso e iridescente oricalco, uma liga de cobre – possivelmente latão. A capital da Atlântida, implantada exactamente no centro da ilha, era notável pelas proporções e magnificência dos edifícios públicos, onde as pedras brancas, pretas e vermelhas se combinavam harmoniosamente. Mais extraordinário ainda, talvez, era o projecto a que obedecera a construção da cidade, a qual se distribuía por cinco zonas, formando círculos concêntricos perfeitos. Os diversos portos eram servidos por um sistema de canais. Platão refere que o canal e o porto da capital se encontravam «repletos de embarcações e comerciantes vindos de todas as partes, imensa multidão que dia e noite ... produzia um rumor continuo, confundindo as vozes humanas com os mais variados sons». No centro da cidade erguiam-se o grande palácio e o templo – este mais sumptuoso ainda: «Todo o exterior do templo, exceptuando os pináculos, que eles tinham coberto de ouro, estava revestido de prata. No interior do templo, o tecto, de marfim, apresentava curiosos embutidos de ouro, prata e oricalco; todas as restantes partes, as paredes, os pilares e o solo, haviam sido recobertas de oricalco. No templo colocaram estatuas de ouro; ali se encontrava o deus que veneravam, de pé num carro – um auriga conduzindo seis cavalos alados – de tão grandes proporções que a sua cabeça atingia o tecto; a sua volta cem nereidas montavam golfinhos ...» Este auriga era Posidon, o deus dos mares, o que abala a Terra. Quando ele e seus divinos irmãos Zeus e Hades partilharam o mundo, a Atlântida coube a Posidon, que se tornou então o senhor todo poderoso da ilha e a povoou com os seus descendentes, uma raça nobre e protegida pelos deuses. Os dez reis da Atlântida, embora imensamente ricos e poderosos, governaram com sabedoria o enorme império que construíram. Inúmeras gerações de habitantes da Atlântida viveram em paz regidas por um sistema de leis que lhes fora transmitido por Posidon e cuja equidade suscitava admiração universal. Em determinado momento, porém, a sociedade da Atlântida entrou em decadência. O povo começou a adorar os falsos deuses da riqueza, do ócio e da luxuria. Platão, sempre pessimista em relação à natureza humana, escreve: «Quando a centelha divina começou a extinguir-se, frequentemente enfraquecida ante a matéria mortal, e a natureza humana tomou o lugar preponderante, então os habitantes da Atlântida, incapazes de arrostarem com o seu destino, comportaram-se indecorosamente e, para quem tinha olhos para ver, ficaram progressivamente privados do mais belo dos seus preciosos dons; porém, face àqueles que não tinham olhos para ver a felicidade autêntica, surgiam gloriosos e felizes no momento preciso em que a avareza e o poder iníquo os dominavam.» Foi durante esta época de corrupção que os habitantes da Atlântida se lançaram numa guerra para a conquista do Mundo, enviando poderosas frotas contra as outras ilhas e escravizando as populações das colónias estabelecidas nas costas do Mediterrâneo (ou no Atlântico). Atenas, a cidade consagrada a Atena, deusa da sabedoria, das artes e ofícios e da guerra, foi a única que conseguiu resistir-lhes. Os hoplitas atenienses, ou infantaria pesada, lograram conter o fluxo invasor. Esta vicissitude não foi, porém, a última. Os deuses tinham preparado um castigo implacável para os homens que haviam traído a antiga crença da Atlântida. E Platão prossegue: «Sobrevieram então terramotos violentos e inundações; e num dia e numa noite de infortúnio apenas ... a ilha da Atlântida desapareceu nas profundezas do oceano.»

Segundo a versão de Platão, estes acontecimentos ocorreram numa antiguidade remota, há cerca de 12 000 anos. Platão situou a Atlântida no Grande Oceano, o Mar Ocidental, (no Atlântico) cujas ondas se erguiam para lá das Colunas de Hércules, o actual estreito de Gibraltar. Assim, a maioria das polemicas posteriormente geradas em torno da existência e da posição geográfica da Atlântida tem origem nesta localização no tempo e no espaço.

Qual a fonte do relato de Platão e até que ponto deve ser tida como certa. Quais as circunstâncias em que foi escrito e qual o seu objectivo ? Há apenas 100 anos, as cidades de Tróia e de Micenas eram, tal como a Atlântida, consideradas um mito. Os investigadores eram de opinião que a Ilíada, o poema épico de Homero que descreve o cerco de Tróia, se fundamentava na lenda e na imaginação. No entanto, a busca solitária de um autodidacta alemão, Heinrich Schliemann (1822-1890), estava destinada a anular os dogmas oficialmente aceites. Convencido de que a Ilíada se baseava em factos históricos, Schliemann utilizou-a como guia para o mundo perdido de Tróia. A sua grande aventura tornou-se um exemplo para muitos defensores da teoria da Atlântida. Nas palavras do príncipe Miguel da Grécia: «A reabilitação de Homero e a vitória, tardia mas definitiva, daqueles que nele acreditavam podem ser motivo de reflexão para os que põem em duvida a existência da Atlântida.» Poder-se-á, no entanto, defender Platão do mesmo modo que Homero ? A história da Atlântida difere da de Tróia num aspecto importante: não fazia parte de qualquer tradição oral. Não era uma lenda transmitida oralmente de geração para geração ao longo de séculos. Era a obra de um homem, Platão. A história da Atlântida surge em dois dos famosos Diálogos de Platão – Time e Critias. Estes Diálogos eram essencialmente transcrições dos debates filosóficos a que se entregavam frequentemente os intelectuais de Atenas. Platão tinha por habito animar o debate destas ideias secas, abstractas, apresentando-as sob a forma de alegorias, parábolas e outros artifícios literários. Imaginou um grande número de histórias a fim de tornar mais agradáveis e mais persuasivos os seus argumentos lógicos. Não será possível, e até mesmo provável, que a narrativa da Atlântida seja apenas uma destas fábulas imaginada para ilustrar uma tese filosófica. Nos Diálogos, o narrador e Critias, primo de Platão e também discípulo de Sócrates. Em três momentos distintos, Critias insiste na veracidade da narrativa citando o próprio Socrates como tendo afirmado que ele apresentava «a grande vantagem de ser um acontecimento verídico, e não um produto da imaginação».

Crítias afirma ainda que a história lhe fora narrada pelo seu bisavô Dropides, que por sua vez a ouvira a Sólon. Esta afirmação, a ser verdadeira, é susceptível de conduzir a reflexão mesmo os mais cépticos, pois Sólon era conhecido em toda a Grécia pela sua probidade. Sendo o mais celebre legislador da Antiguidade Clássica, Sólon era ainda considerado o mais erudito dos Sete Sábios da Grécia. Viveu entre cerca de 640 e 558 a. C., dois séculos antes de Platão ter relatado a história da Atlântida – um lapso de tempo relativamente curto para que uma história deste tipo se mantenha viva por tradição oral. Sólon não confirmava a originalidade da história. Ele próprio tivera dela noticia durante uma viagem ao Egipto cerca de 590 a. C. Em Saís, uma cidade antiga no delta do Nilo, tivera contactos com os sacerdotes da deusa Neith. Estes homens possuíam elevada cultura e Sólon, sempre ávido de novos conhecimentos, interrogara-os sobre os tempos antigos. Um velho sacerdote referira pormenorizadamente os feitos heróicos dos seus próprios antepassados atenienses de há 9000 anos e o trágico destino da ilha da Atlântida. Impressionado pela narrativa, Sólon traduziu-a para o grego com a intenção de a converter num poema épico, pois, além de homem de Estado, era também um poeta notável. Não viveu no entanto o suficiente para realizar esta aspiração. É possível, portanto, que tenham sido os Egípcios, esses historiadores meticulosos obcecados pelo passado, com as suas tábuas e arquivos sagrados, quem preservou a história da Atlântida. Admitindo que a Atlântida existiu realmente, esta sua ligação com o Egipto reveste-se de enorme importância, pois significa que os Egípcios, além de terem conhecimento da existência da Atlântida, mantinham possivelmente relações comerciais com a ilha.

Se esta relação com o Egipto é autentica, o carácter nebuloso da narrativa de Platão poderá ter-lhe sido conferido pelo próprio filosofo. E provável que este tenha transmitido a lenda numa forma muito semelhante àquela que ele próprio escutara, adaptando-a e transformando-a de acordo com exigências puramente literárias, pois assistia-lhe esse direito. É importante sublinhar que as intenções de Platão ao relatar a lenda da Atlântida eram mais filosóficas que históricas. Grande número de comentadores omite que, nos Diálogos, Platão se ocupa da sabedoria, das instituições e da influência de Atenas, e não da Atlântida. Os habitantes desta última formam. um contraste lógico com os antepassados de Sólon e do próprio Platão. Estes atenienses de antanho, que Platão designou por homens probos», haviam criado algo de semelhante ao Estado ideal que o filosofo apresenta na sua Republica. Assim, a história da decadência da Atlântida seria um pano de fundo sobre o qual se recortam mais nitidamente as virtudes deste Estado filosófico.

Alguns escritores clássicos, contudo, não encaravam seriamente esta parábola de Platão. O seu discípulo Aristóteles sustentava que ela era apenas uma invenção poética destinada a realçar a narrativa e que Platão criara a Atlântida com o único propósito de à afundar no final da história. Muitos outros escritores adoptaram uma posição semelhante. Outros ainda, porém, hesitavam. Crantor, que viveu cerca de 300 a. C. e foi o primeiro comentador das obras de Platão, afirmava que a descrição da Atlântida era rigorosa em todos os seus pormenores. Crê-se que Crantor chegou mesmo a ir ao Egipto para verificar as fontes de Sólon na sua origem. Alguns séculos mais tarde, Possidónio (c. 135-50 a. C.), sábio e filósofo estóico, afirma a crença de Platão quanto à autenticidade da história. Realidade ou ficção. É uma polemica que se arrasta há cerca de 23 séculos, que estimulou as mais extravagantes fantasias e deu origem a inúmeras e complicadas pesudociencias. A Atlântida tornou-se o campo propício onde se movimentam os iniciadores de falsas religiões, praticantes de ciências ocultas e magia negra, espiritas, videntes e escritores de ficção cientifica, despertando simultaneamente a atenção de arqueólogos idóneos.

Porquê a eterna fascinação da Atlântida, o continente perdido? Ela foi pretexto de inúmeros mitos, uma terra idílica situada na direcção Oste, no caminho do Sol poente ... o jardim das Hespérides, onde os frutos das macieiras eram de ouro ... os Campos Elísios ... o país dos Hiperbóreos – todos localizados no vasto Mar Ocidental que, segundo se cria, tragara a Atlântida. Na Idade Media e no Renascimento, atribuía-se a mesma localização às lendárias ilhas Felizes, às ilhas dos Bem-Aventurados e á ilha de S. Brandão. Quando a geografia é consequência da imaginação, surgem possibilidades ilimitadas; assim, o pensamento pré-moderno povoou os mares de ilhas Fabulosas, terras de leite e mel onde os vivos e os mortos se reuniam numa eterna ventura.

A história e a lenda contém inúmeras referências a ilhas que foram tragadas pelo mar – a misteriosa ilha de Avalon do rei Artur, por exemplo. Este conceito não é totalmente fantasista. O aparecimento de ilhas vulcânicas que emergem e seguidamente desaparecem no mar e um facto que se verifica no oceano Atlântico, nos Açores isso já aconteceu. (Ex. Ilha Sabrina) e próximo da Islandia.

Platão indica claramente que a Atlântida se situava no oceano Atlântico, o que levou um certo número de investigadores a procura-la nessa área, persuadidos de que existira outrora um imenso continente no meio do oceano. Segundo esta teoria, os Açores, as ilhas de Cabo Verde, as Canárias e a Madeira seriam os cumes das montanhas da Atlântida e o que permanece visível de um continente perdido. Só no século XV, com os descobrimentos europeus, a Atlântida saiu da lenda e foi aceite como realidade. Os cartógrafos da época incluíram-na nos seus mapas, embora tivessem apenas a imaginação como ponto de referência. Aquando da descoberta da América, esta foi rapidamente identificada como sendo a Atlântida, não obstante a pertinente objecção de que se tratava de terra seca que nunca estivera submersa. Tais lapsos e incertezas em nada contribuíram para desencorajar um renovado interesse pelo continente perdido. Tinha-se iniciado a pesquisa histórica da Atlântida. No século XIX, culminando uma proliferação de teorias e antiteorias, surge: uma nova «ciência» – a atlantologia. Um dos primeiros atlantologos celebres foi Ignatius Donnelly, político americano e membro do Congresso dos Estados Unidos da América. Em 1882, Donnelly publicou a sua obra-prima, Atlântida: o Mundo Antediluviano, estudo que; obteve grande êxito, tornado-se a bíblia da atlantologia. A tese de Donnelly baseava-se em certas semelhanças que observara entre as civilizações pré - colombianas da América e a antiga cultura do Egipto. Donnelly citava entre outras a construção de pirâmides, a arte de embalsamar, o estabelecimento de um calendário de 365 dias e a tradição do Dilúvio. Estava persuadido de que as duas civilizações tinham uma origem comum, um continente que existia entre o Velho e o Novo Mundo antes do Diluvio, e que, uma vez submerso este continente, duas culturas tinham surgido, uma a Oriente, outra a Ocidente: Na elaboração da sua teoria, Donnelly recorreu profusamente à ciência da época, associando com considerável erudição e habilidade literária a arqueologia, mitologia, linguistica, etiologia, geologia, zoologia e botânica. Esta miscelânea cientifica estava destinada a um futuro brilhante, proporcionando uma fonte inesgotável a uma extensa série de seguidores.

Os que secundavam Donnelly dispunham de grande número de teorias para apoio das sua causa. A atlantologia surgia como solução para muitos enigmas consagrados. Os misteriosos hábitos de reprodução das enguias, por exemplo, as quais, partindo da Europa, atravessam o Atlântico numa viagem longa e arriscada para desovar no mar dos Sargaços, eram explicados pela sua experiência passada nos rios da Atlântida. A Atlantida era considerada a pátria original dos Bascos, povo sem afinidade rácica e linguística com os outros povos europeus, e das tribos de Índios brancos, encontrados, por exemplo, na Venezuela. Os Guanches, aborígenes das ilhas Canárias que viviam em cavernas e que foram eliminados quando os Espanhóis conquistaram as ilhas, eram certamente descendentes dos habitantes da Atlântida. De elevada estatura e pele branca, possuíam uma língua escrita indecifrável. O deus pré-colombiano, branco e de barbas, a quem os Maias chamavam Kukulcan, os Toltecas, Quetzalcoatl, e os Incas, Viracocha, e que viera do Oriente por mar e fora portador de uma civilização, só da Atlântida podia ser originário. Qual o fundamento das teorias de Donnelly à luz das ciências modernas, em especial da geologia dos oceanos, que nos últimos 30 anos conheceu um desenvolvimento notável ? Grande parte das analogias indicadas por Donnelly era suficientemente inquietante para causar acesa controvérsia na época; actualmente, porém, não existe qualquer duvida de que a sua teoria continha uma infinidade: de equívocos. Donnelly pretendeu demonstrar que praticamente todos os enigmas do Mundo estavam de certo modo relacionados com a Atlântida e, ao tentar justifica-los, expôs-se a critica de que nada conseguira realmente provar.

A base sobre a qual as teorias de Donnelly se fundamentam – a Atlântida estava localizada no meio do oceano Atlântico – tem sido vigorosamente contestada. Os estudos oceanográficos do fundo do mar e da formação dos continentes revelam que em parte alguma dos 82 217 000 km2 do Atlântico se encontra qualquer prova da ocorrência de um cataclismo com as proporções do que teria atingido a Atlântida, ou de que este continente tenha alguma vez existido. De norte a sul estende-se uma enorme cadeia de montanhas com cerca de 20 000 km de comprimento, que emerge nos Açores, e em outros sitios, como a Islândia, a ilha Brasileira de Fernando de Noronha, as ilha de Ascenção, entre outros. No entanto, embora se trate de facto de uma cadeia de montanhas de origem vulcânica, esta encontra-se «em expansão» – elevando-se para a superfície –, enquanto a Atlântida se encontraria em afundamento. Para refutar a teoria de Donnelly, foram necessários o equipamento e os técnicos modernos. Em 1912, porém, a história da Atlântida era suficientemente convincente para ressuscitar a imaginação de um público crédulo. Nos Estados Unidos foi o expoente máximo do jornalismo sensacionalista. Há alguns anos o New York American de William Randolph Hearst proclamava em grandes parangonas: «Como encontrei o continente perdido da Atlântida, fonte de toda a civilização.» O artigo está assinado pelo Dr. Paul Schliemann, apresentado como um certo do descobridor de Tróia.

O autor do artigo pretendia ter na sua posse documentos secretos legados pelo seu celebre avô, os quais continham estranhas revelações acerca do continente perdido da Atlântida, de enorme importância para o mundo civilizado. Era uma história dramática, ou antes, melodramática. Os documentos encontravam-se num sobrescrito selado com a inscrição: Só poderá ser aberto por um membro da família [Schliemann] após juramento solene de que dedicará a sua vida as investigações descritas nos documentos anexos.» Paul Schliemann fez o juramento e abriu o misterioso sobrescrito. A primeira indicação nele contida determinava que quebrasse um vaso encimado por um mocho que fora guardado com os documentos. Dentro do vaso, Schliemann encontrou uma curiosa moeda quadrada, feita de uma liga branca desconhecida, com uma inscrição em caracteres fenícios: «Procedente do Templo das Paredes Transparentes.»

Com entusiasmo crescente, Schliemann percorreu as anotações do seu avô, encontrando uma referência a um grande vaso de bronze que fora descoberto nas escavações de Tróia, o qual ostentava uma inscrição intrigante: «Oferecido por Crono, rei da Atlântida.

Schliemann contava que partira então numa viagem à volta do Mundo em busca de novas provas. Pretendia ter descoberto dois manuscritos que confirmavam o relato de Platão, segundo o qual a Atlântida se afundara no oceano Atlântico. Um deles, conservado em Londres, era de origem Maia; o outro, guardado num mosteiro tibetano, era um documento caldeu com mais de 4000 anos. Ambos provavam que haviam existido povos civilizados antes do diluvio.

O artigo de Schliemann terminava prometendo novas revelações surpreendentes. A sua história, composta por todos os elementos de uma clássica história de suspence acrescida do mistério antigo, fez sensação em muitos países. Revelou-se, no entanto, uma história sem conclusão. As revelações prometidas nunca se tornaram realidade. Paul Schliemann desapareceu simplesmente e desde então nunca mais se ouviu falar dele.

Para os mistificadores como Paul Schliemann, para os amadores de partidas, cabalísticos e excêntricos de todo o género, a história da Atlântida possui uma atracção irresistível. Porém, enquanto ocultistas e visionários que gravitam nos aspectos superficiais do culto dominando os grandes títulos, existe um número igualmente importante de estudiosos honestos, os quais a publicidade ignora. Estão neste número os historiadores, geógrafos, escritores, políticos, botânicos, oceanógrafos, arqueólogos, poetas, linguistas e até o cientista britânico Frederick Soddy, Laureado com o Prémio Nobel de Química em 1921.

A Atlântida é susceptível de atrair os mais diversos espíritos. Já fez correr rios de tinta. Recentemente, um jornalista perito em arqueologia, o almejado C. W. Ceram, revelou que existem cerca de 20 000 obras sobre o assunto. Um dos mais estranhos episódios da saga da Atlântida relaciona-se com o profeta e vidente americano Edgar Cayce (1877-1945). Cayce, um fotógrafo de sucesso, ganhara renome como curandeiro, e, quando em transe hipnótico, tinha visões surpreendentes, que frequentemente diziam respeito à Atlântida. Afirmava que grande número dos seus «clientes» eram habitantes da Atlântida reencaminhados, que possuíam uma característica comum – um conhecimento invulgar de assuntos técnicos. A sua descrição da Atlântida, que se manifestou no decurso de centenas de transes entre 1923 e 1944, era extraordinariamente semelhante à de Platão, embora se acreditasse que Cayce nunca lera os livros. A sua Atlântida possuía uma civilização de elevada técnica e se haviam guindado a níveis altamente sofisticados. Os habitantes da Atlântida haviam dominado todas as Fontes de energia, particularmente a energia atómica, e conheciam os princípios do voo. O seu mundo fora destruído em três holocaustos nucleares distintos ocorridos nos anos 50 000, 28 000 e 10 000 a. C. Esta última data corresponde aproximadamente à indicada por Platão para a catástrofe que assolou a Atlântida. Cayce revelou, no entanto, que os habitantes, na sua maioria, escaparam ao aniquilamento, pois haviam previsto as calamidades que se aproximavam. Assim, dispersaram-se para Leste, para o Egipto, e para Oeste, para o Peru e México, preservando de certo modo o seu património cultural.

As visões de Cayce, embora em parte com subjectividade e com pontos obscuros, permitiram distinguir dois elementos essenciais. Em primeiro lugar a Atlântida por ele descrita como situada entre o golfo do México e o estreito de Gibraltar apresenta semelhanças notáveis com os Estados Unidos do último quartel do século XX. Cayce acrescentou ainda que foram os cientistas e os técnicos da Atlântida que provocaram a sua própria destruição pelo uso indevido dos perigosos conhecimentos que haviam alcançado. é possível que a visão de Cayce fosse, na realidade, um premunição – que a sua visão se apresentasse o passado remoto, mas o futuro imediato da América industrializada. A sua mensagem parece ser uma esclarecida advertência à sociedade moderna. As ideias de Cayce são positivamente moderadas quando comparadas com certas teorias. Alguns entusiastas situam a Atlântida no domínio da teoria cientifica, transformando os antigos marinheiros da ilha em seres extraterrestres e equipando-os com naves espaciais, pistolas laser e raios cósmicos.

Os quiméricos pesquisadores da Atlântida já descobriram o continente perdido numa imensa variedade de locais, tais corno os Andes, o Tibete, a Austrália, o Caucaso, a América do Sul, a bacia do Amazonas, Spitzberg, a Líbia, o Pais Basco, a índia, Marrocos, o deserto do Gobi, o Egipto, o México, Ceilão, a China, a Tunísia, a Suécia, nos Açores , no Saara, na Sibéria, o mar do Norte e o oceano Pacifico. Não é, pois, surpreendente que, fazer a ideias de tal futilidade, os cientistas tenham tendência para encarar qualquer mérito à Atlântica com um céptismo que em 1958, uma observação levada a cabo nas Baamas conduziu a uma nova descoberta que iria fornecer material aos fantasistas da Atlântida, com novos acontecimentos para os verdadeiros investigadores. O Dr. J. Manson Valentine, zoólogo americano e mergulhador experimentado, notou algumas estranhas estruturas no leito do oceano, cujo traçado geométrico só era claramente visível do ar – polígonos regularas, círculos, triângulos, rectângulos e linhas rectas que se prolongavam por muitos quilómetros.

Em 1968, o Dr. Valentine descobriu ao largo da pequena ilha de Bimini do Norte uma enorme «muralha» submersa com várias centenas de metros de comprimento. A muralha apresentava duas ramificações perfeitamente rectas e perpendiculares. Eram formadas por blocos de pedra quadrados com mais 4,5 m de lado. Ao prosseguir a sua exploração, revelou-se-lhe uma estrutura muito mais complexa, que com os seus cais e o seu molhe duplo se assemelhava a um porto submerso. O francês Dimitri Rebikoff, engenheiro e mergulhador experimentado, dirigiu-se ao local. Pioneiro da fotografia submarina e inventor do torpedo Pegasus, Rebikoff procedeu ao levantamento completo da zona utilizando os processos mais modernos. Rapidamente as águas azuis e límpidas das Baamas encheram-se de mergulhadores e, com igual rapidez, teve inicio a controvérsia em relação às muralhas. Alguns observadores afirmavam que estas eram sem sombra de duvida de origem natural. Com igual segurança se pretendia que elas faziam parte de uma estação arqueológica sem precedentes, cujas enormes estruturas construídas pelo homem revelavam a existência de uma civilização avançada numa antiguidade remota. Mas quem talhara estas enormes pedras ? Os peritos foram extremamente cautelosos na identificação dos seus construtores. A hipótese de serem povos pré-colombianos – os Olmecas e os Maias – foi abandonada. Pensou-se também nos arquitectos de Tiahuanaco.

Apontaram-se semelhanças com Stonchenge e os misteriosos desenhos traçados nas areias do deserto de Nazca. Estas teorias, por si só ultrapassaram as conjecturas. As descobertas do Dr. Valentine provocaram novas ondas de especulação. Mais uma vez se sugeriu a existência de seres extraterrestres. Realçou-se que Bimini do Norte se encontra no Triangulo das Bermudas, zona oceânica famosa pelos seus mistérios. E, fatalmente, tornou a falar-se da Atlântida.

A geologia da zona indicava que a inundação da plataforma das Baamas fora causada pela fusão dos glaciares do pólo, provocando a elevação do nível das águas dos oceanos. Este facto levaria a atribuir as ruínas de Bimini do Norte a data provável de 8000 a 7000 a. C. e anularia todas as teorias actuais relativas ao povoamento das América e a origem das suas civilizações.

As dúvidas originadas pelas descobertas em Bimini do Norte foram posteriormente relegadas para segundo plano devido a uma dessas estranhas coincidências que surgem infalivelmente sempre que é abordado o enigma da Atlântida. Segundo constou, Edgar Cayce previra todos estes acontecimentos ao afirmar que a Atlântida ressurgiria das águas de Bimini do Norte, facto que viria a verificar-se em 1968 ou 1969. Os grandes templos da Atlântida, dissera, seriam encontrados «sob o sedimento dos séculos e sob as ondas do mare.

Os cientistas idóneos que procuravam uma explicação racional para estas descobertas reagiram de forma característica, e compreensível, a esta intervenção póstuma do vidente americano (falecido em 1945). Assim, rejeitaram toda e qualquer teoria relacionada com a Atlântida de Platão. Se, na verdade, as ruínas haviam sido submergidas como resultado do lento degelo dos glaciares, onde estava a catástrofe súbita e de enormes proporções, que tragara o continente. As opiniões acerca de Bimini do Norte mantém-se inconcludentes.

O consenso geral inclina-se para que as estruturas sejam «provavelmente artificiais» e datam de um período bastante antigo». Mas na busca da Atlântida poderia rejeitar-se, assim tão simplesmente, a hipótese Bimini? E se Platão ou Sólon se tivessem equivocado quanto à situação da ilha e se Sólon tivesse interpretado erradamente as informações dos sacerdotes egípcios? Estes haviam utilizado a expressão «o verdadeiro mar», o que não significaria necessariamente o Atlântico. De igual modo, os Gregos podiam ter sido induzidos em erro ao supor que os «estreitos» mencionados fossem as Colunas de Hércules, dado que existem outros estreitos mais próximo do delta do Nilo. Além disso, embora se admite que os Egípcios tivessem realizado longas viagens em jangadas de papiro, não eram propriamente um povo de navegadores e os seus conhecimentos dos oceanos foram em grande parte adquiridos através de outros povos, como os Fenícios e os Cretenses, que se dedicavam ao comercio marítimo.

O cepticismo que a situação geográfica atribuída à Atlântida pelos Egípcios inspirou levaria a considerar Bimini do Norte como uma localização possível para a ilha e, simultaneamente, a seguir uma outra linha de pensamento. E provável que os Egípcios, pouco conhecedores dos mares, situassem um continente vasto e misterioso como a Atlântida num oceano distante, é improvável que admitissem que esta se encontrava muito mais próximo – no mar Egeu. Privados de qualquer informação concreta em que se pudessem basear, teriam os Egípcios pensado que a Atlântida se situava a milhares de quilómetros para além dos seus horizontes ?

A erupção vulcânica de grande amplitude ocorrida na ilha de Kallisté corresponde sem dúvida à catástrofe descrita por Platão. Existem, além disso, provas concludentes de que, antes da tragédia, florescia no Mediterrâneo Oriental uma civilização avançada e decadente.

Em 1967, o eminente arqueólogo grego Spyridon Marinatos iniciou escavações na ilha de Kalliste, nas ruínas de uma antiga cidade soterrada sob a cinza, local que veio a ser designado por Pompeia do mar Egeu. Esta ilha, actualmente conhecida por Santorino ou Tera, é a mais meridional das ilhas Cíclades. Dois anos antes, os cientistas americanos Dragoslav Ninkovich e B. C. Heezen haviam reconstituído com rigor notável o cataclismo ocorrido em Santorino há 3500 anos, tendo-o então comparado com uma erupção mais recente, em Agosto de 1883 – a de krakatoa, no estreito de Sonda, entre Java e Samatra.

A sequência dos acontecimentos nesta expulsão encontra-se documentada e segue um esquema quase idêntico ao de Santorino. A erupção de krakatoa foi ouvida a cerca de 4800 km de distância. As cinzas ergueram-se a 80 km de altura e, ao caírem, cobriram uma área de 780 km2. A diferença fundamental é que as forças libertadas em Santorino superaram quatro vezes a intensidade das de Krakatoa. É possível obter uma imagem mais exacta. das proporções desta destruição considerando que as vagas sísmicas de Santorino atingiram uma altura de cerca de 200 m, enquanto as de Krakatoa, apenas com 35 m, causaram a morte de cerca de 36 000 mil pessoas.

Em Santorino, a inexistência de quaisquer vestígios humanos além de alguns ossos e dentes calcinados permite pensar que os habitantes tiveram tempo para fugir antes da explosão da ilha – tal como, segundo Plínio, aconteceu a grande parte dos habitantes de Pompeia. E no entanto duvidoso que alguém tenha sobrevivido aos efeitos devastadores da erupção. A morte que os surpreendeu deve ter sido partidariamente horrorosa. Atingidos nos seus barcos superlotados por pedaços flutuantes de pedra-pomes, devem ter sido queimados vivos pela chuva de rochas e cinzas incandescentes e por fim tragados pelas vagas gigantescas.

Não é possível afirmar por quanto tempo se arrastou a destruição – dias ou semanas. Sabe-se, porém, que os efeitos se fizeram sentir por toda a zona leste da bacia do Mediterrâneo. As cinzas, levadas para sudeste pelos ventos de Verão, afastaram-se 700 km do vulcão, depositando-se numa área superior a 300 000 km. Entre 1945 e 1965 procedeu-se à colheita de amostras de sedimentos no leito do mar Mediterrâneo, sendo então possível determinar a dispersão atingida pelas cinzas. Os oceanografos descobriram uma camada de pedra de Santorino com 2 m de espessura, a 140 km do vulcão e a uma profundidade de 3000 m.

As cinzas alcançaram as costas da Ásia Menor, da Palestina e do Egipto. O delta do Nilo foi gravemente atingido. Alguns cientistas aventaram mesma a hipótese de que certos episódios bíblicos se teriam inspirado inteiramente nos efeitos da erupção de Santorino. As Dez Pragas do Egipto podariam estar relacionadas com a queda das cinzas, e a separação das águas do mar Vermelho, que permitiu aos Hebreus fugir do faraó, estaria provavelmente relacionada com as vagas sísmicas. O mar teria recuado antes da chegada dos tsunamis, os quais seriam suficientemente poderosos para arrasar um exército.

A cratera vulcânica de Santorino é uma das mais extraordinárias paisagens naturais do Mediterrâneo. No centro, onda anteriormente se cingiu o vulcão, existem dois blocos de lava negra, denominados Palea Kameni e Nea Kameni, o que significa A Valha Ilha Queimada e A Nova llha Queimada. Embora destas ilhas tenham surgido muito depois do cataclismo, delas erguem-se por vezes penachos de fumo, derradeiros vestígios de actividade vulcânica naquela zona. A paisagem assemelhasse à superfície da Lua, calcinada, esburacada, escarpada e sinistra. Santorino e as ilhas próximas, Thensia e Aspronisi, são tudo o que resta da ilha outrora fértil que deveria ter sido a Atlântida.

Embora hoje em dia a zona do mar Egeu não apresente praticamente actividade vulcânica, está ainda sujeita a frequentes tremores de terra. No dia 9 de Julho de 1956, as 5 h. da manha, Santorino sofreu nova tragédia. O abalo de terra atingiu 7-8 na escala de Richtcr, seguindo-se-lhe vagas sísmicas de mais de 24 m de altura, provocando mais de 50 mortos, 200 feridos e 2400 casas destruídas. Actualmente são ainda visíveis vestígios desta calamidade, sobretudo na sombria e estranha cidade de Ios.

O aspecto decadente de Ios contrasta violentamente com o ambiente de Akrotiri, no outro extremo da ilha. Em Akrotiri, de momento a mais famosa zona de escavações da Grécia, mantém-se vivo o espirito explorador. Situa-se numa pequena ravina onde a camada de pedra, relativamente pouco espessa (cerca de 9 m), tornou possível as escavações. Comparada com Pompeia, Akrotiri, estação arqueológica da Idade do Bronze, não é espectacular; porém, a lenda da Atlântida é uma poderosa atracção, e todos os anos milhares de visitantes sobem os 587 degraus da Escadaria de Phira para observar as escavações.

No Outono ou no Inverno, em dias de boa visibilidade, é possível avistai a ilha de Creta, 110 km a sul de Akrotiri. Os principais efeitos do cataclismo de Santorino não pouparam Creta. As vagas sísmicas atingiram a ilha meia hora após a sua formação em Santorino. Dependendo a velocidade a que se deslocam estas vagas da profundidade do mar e sabendo que entre as duas ilhas a profundidade media e de cerca de 1000 m, é possível concluir que os tsunamis atingiram uma velocidade de 355 km/h.

Estas enormes muralhas de égua, que ao atingirem Creta se erguiam a cerca de 90 m de altura, fustigaram o litoral norte, densamente povoado, arrasando grandes portos como Amnisos, que servia Cnossos, a capital, destruindo cidades e palácios e fazendo inúmeras vitimas. Toda a zona leste da ilha ficou soterrada sob uma densa camada de cinzas que destruiu as colheitas e contaminou o solo durante anos.

Cnossos, situada no interior, não foi afectada; porém, os outros centros culturais da zona leste foram abandonados, verificando-se uma grande migração para o oeste da ilha, menos atingido pelas vagas. No entanto, a economia cretense fora tão brutal e repentinamente destroçada que jamais se recomporia. A idade de ouro da civilização minóica atingia o seu termo, aniquilada num só dia pelas forças libertadas cm Santorino.

Os Egípcios tiveram certamente conhecimento destes factos que, para além de tudo, se relacionavam com calamidades seu próprio pais. Tinham decerto conhecimento de que o mar tragara uma pequena ilha e que Creta, a grande; ilha que tão bem conheciam, tinha sido devastada. Os Cretenses, a quem os Egípcios chamavam Keftiou, mantinham há anos relações comerciais com o Egipto. Os Egípcios teriam concluído que os Cretenses haviam desaparecido repentinamente, pois os seus barcos não voltaram a demandar os portos do Nilo. Assim, para os Egípcios aquela ilha rica e fértil a nordeste deixara de existir, e a lembrança da sua extinção estava associada á memória da grande catástrofe que abalara a zona leste do Mediterrâneo. Nascera a lenda da Atlântida.

E a cultura da civilização utópica que é o fulcro do mito da Atlântida. Nesse aspecto verifica-se uma semelhança notável entre a descrição da Atlântida deixada por Platão e a sociedade minóica antiga descoberta em Cnossos, na ilha de Creta, na primeira década de 1900, pelo arqueólogo inglês Sir Arthur Evans. Anteriormente à destruição pela catástrofe de Santorino, Creta fora um próspero império insular, possivelmente a principal potência do Mediterrâneo, e o cenário onde florescera a primeira e a mais original forma de civilização requintada do Ocidente. Os barcos de Creta escalavam todos os portos do Mediterrâneo. Os Cretenses eram navegadores destemidos, comerciantes sagazes e construtores e urbanistas altamente competentes.

Actualmente os Cretenses são mais conhecidos pela espectacular prática de saltar sobre os touros, um desporto ou, possivelmente, um culto. As cidades possuíram banhos, sistema de esgotos e outros meios que lhes asseguravam o conforto material. A ilha, extensa, montanhosa e fértil, mas sujeita a tremores de terra, constituía, no mundo antigo, uma espécie de encruzilhada indiscutivelmente próspera. De súbito, após 500 anos, esta notável potência marítima, no auge da sua gloria, cai misteriosamente no esquecimento.

As suas semelhanças com a Atlântida de Platão são de facto evidentes; no entanto, seria impossível que Platão ou Sólon as reconhecessem, pois a antiga civilização minóica era desconhecida na Grécia da Antiguidade Clássica. Homero apenas faz referência a uma civilização muito mais tardia em Creta: no meio do oceano cor de vinho existe Creta, um pais belo e fértil rodeado pelo mar. Nele vivem inúmeros homens e existem 90 cidades; uma língua mistura-se com outras ...» De qualquer modo, esta descrição contem algo da Atlântida.

Há apenas 100 anos os principais centros da civilização minóica, Cnossos, Festos e Hagia Triada, não eram conhecidos. Os Minóicos estavam esquecidos, como no tempo de Platão. Quando Evans fez as suas notáveis descobertas, ninguém admitiu, a principio, as semelhanças entre esta cultura redescoberta e a Atlântida, exceptuando um certo K. T.. Frost, que em 19 de Fevereiro de l909 publicou as suas teorias num artigo em The Times de Londres. A hipótese minóica não voltou provavelmente a ser referida até 1939, ano em que na revista Antiquity surge um artigo assinado por Spyridon Marinatos. As descobertas efectuadas durante as escavações do porto de Amnisos alertaram Marinatos para a possibilidade de a destruição da civilização minóica estar ligada a erupção de Santorino. No entanto, foi apenas em 1967, aquando das suas descobertas em Santorino, que esta teoria se consolidou.

As duas imagens – a da esplendorosa cultura cretense que floresceu e subitamente se extinguiu, e que hoje sabemos ter existido, e a da Atlântida, o lendário continente perdido – pareceram então ajustar-se: Kaliste, a Atlântida da fábula, era apenas um posto avançado da brilhante civilização cretense. Verificam-se ainda certas discrepância de pormenor que podem perfeitamente atribuir-se á liberdade poética utilizada por Platão. A grande capital circular da Atlântida não terá nunca existido, e a sua menção pelo filósofo deve-se ao facto de que o circulo é um símbolo da perfeição.

Subsiste, no entanto, o confuso problema da datação, é possível que, ao atribuir à Atlântida uma existência de 9000 anos antes, Platão tivesse cometido um erro ao multiplicar as datas por dez. Admitindo esta hipótese, Platão teria querido dizer 900 anos, o que já faria sentido: 900 anos antes da viagem de Sólon ao Egipto situariam a destruição da Atlântida no ano 1500 a. C. aproximadamente. Desconhecem-se, além disso, outras culturas avançadas que tenham florescido em 12 000 a. C. Será então possível desmistificar a Atlântida e considera-la um problema histórico para o qual se encontrou solução?

De certo modo, o mito da Atlântida não pode morrer, pois está contido em mitologias de outros países. Na índia, designadamente os poemas épicos Maaharata e Ramaiana incluem as suas versões da Atlântida. Também o Egipto possui o seu continente perdido expresso na lenda da ilha do Condenado ou do Dcagio, lenda que data do Império Médio.

Por outro lado, mesmo as impressionantes provas cientificas em que a teoria de Santorino se apoia tem sido contestadas, assistindo-se actualmente a elaboração de uma outra teoria que localiza a Atlântida na ilha de Heligolândia, no mar do Norte.

Para concluir, poderá acrescentar-se que. presentemente é a teoria de Santorino e dos Açores aquelas que reúnem mais probabilidades de constituir a solução para o enigma da Atlântida, não estando, contudo, inteiramente provadas nem uma nem a outra. A Atlântida permanece assim como desde sempre – um dos mais duráveis mistérios da Terra.



Autor do texto: MAY VEBER

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

OS SUMÉRIOS E O POVO HANUNNAKI


Os sumérios descreviam nosso sistema solar como um conjunto de 12 corpos celestes significativos. Na linguagem zodiacal, estes astros são todos chamados "planetas", embora, entre eles, os antigos incluíssem a Lua e o Sol. Isso significa que os mesopotâmicos, não somente possuíam um inexplicável conhecimento astronómico; eles também afirmavam a existência de planetas que somente a ciência contemporânea pôde reconhecer, como o longínquo Plutão, hoje destituído de seu status planetário; os misteriosos Úrano e Saturno e o até hoje desconhecido porém procurado 12º planeta, este que os sumérios denominavam Nibiru. Ora, se os sumérios, há 6 mil anos, estavam correctos em relação aos nove planetas reconhecidos hoje, porque não poderiam estar igualmente correctos, em relação a Nibiru?

Há seis mil anos atrás, os Sumérios conheceram um planeta chamado Nibiru. Era o planeta de origem de um povo descrito pelos antigos como "raça dos deuses". Os nativos de Nibiru visitaram a Terra no passado influenciando decisivamente a cultura humana. Artefactos e tabuletas cuneiformes de argila e pedra encontradas no Iraque referem-se claramente a um planeta de onde vieram viajantes cósmicos.

Aos poucos, a pesquisa sobre Nibiru começa a aparecer, ainda que o planeta seja chamado por outros nomes, como <>, 12º planeta ou "planeta da cruz" (Planet of the crossing). Os sumérios tinham doze corpos celestes em seu zodíaco, contando o sol e a lua e mais DEZ Planetas que, afirmavam, pertencem ao nosso sistema solar.

Hoje os cientistas estão procurando por este planeta misterioso nos confins do espaço; a NASA está empenhada nesta pesquisa e os especialistas investigam porque já têm certeza de que o "Planeta X" existe é real. Observado há milhares de anos passados, Nibiru não é visto nos céus contemporâneos. Isso acontece porque a órbita do 10º planeta (12º astro dos sumérios) é uma elíptica extremamente alongada. Durante milénios, o globo se mantém longe do sol e da vista dos terráqueos, muito além da órbita de Plutão.

A herança destes remotos alienígenas aparece na avançada tecnologia dos sumérios e de outros povos ao redor do mundo. Muitas relíquias não são acessíveis ao público que, assim, desconhece essa face da mitologia mesopotâmica. No caso dos sumérios, sua cultura é a mais antiga do Ocidente. Entretanto, seu sistema matemático e o calendário permanecem actuais.

A Evidência Tecnológica

Há muito tempo escavações arqueológicas têm trazido à luz artefactos, ferramentas, máquinas e registos que surpreendem, pelo seu avanço, as expectativas dos estudiosos. São objectos inexplicáveis para a ciência histórica académica. No deserto do Iraque foram encontradas baterias de argila com eléctrodos datadas em 2 mil e 500 anos antes de Cristo; em uma pirâmide funerária, havia um modelo de aeroplano perfeitamente funcional.


Nave suméria Nave suméria Escrita em argila Escrita Cuneiforme


Mais recentemente, a redescoberta de ouro monoatómico em sítios arqueológicos do Oriente Médio veio reforçar a crença em civilizações do passado altamente sofisticadas. As substâncias monoatómicas são supercondutoras de energia em temperatura ambiente e possuem propriedades anti-gravitacionais. Somente nos últimos anos o ouro monoatómico tem sido investigado pela física. Arqueologicamente, entretanto, o ouro monoatómico mesopotâmico é conhecido desde 1889, quando sir Flinders Petrie demonstrou que o material era produzido há 3 mil anos atrás.

A Evidência Genética

Os registos sumérios localizam o laboratório, onde os Anunnaki criaram o homo sapiens na região leste da África Central, próximo às minas de ouro. É uma área que coincide com o lugar onde foi encontrado o mais antigo ADN mitocondrial, pertencente ao fóssil que ficou conhecido como Lucy. Os arqueólogos também encontraram ruínas de minas de ouro de 100 mil anos. Os documentos descrevem, ainda, os avanços da engenharia genética. O rápido progresso da espécie humana sapiens, que chega a Marte apenas 250 mil anos depois de começar a realmente "sair das cavernas" é notavelmente anómalo diante dos milhões de anos que foram necessários para consolidar os membros mais antigos do nicho dos homo erectos.

A Evidência Documental

O registo histórico documentado da existência e das realizações dos Anunnaki começaram a aparecer desde os primeiros anos do século XIX. A escavação de antigos sítios arqueológicos mesopotâmicos revelaram uma avançada civilização Suméria. Milhares de lâminas de argila contêm escrituras relacionadas não somente com às questões do quotidiano, como o comércio, os casamentos, as acções militares e sistema de cálculos astronómicos; as tábuas cuneiformes também falam dos Anunnaki.

Fica evidente que os sumérios sabiam perfeitamente que aqueles seres eram criaturas vivas, de "carne e osso". A Biblioteca de Assurbanipal, apesar de ter sofrido um incêndio, não perdeu nada de seus documentos feitos de argila, resistente ao fogo. Assim, foram preservadas 400 tabuletas cuneiformes que contêm a história dos tempos arcaicos, sem falhas; uma espécie de "cápsula do tempo" feita de barro cozido. São estes documentos que contam a saga dos Anunnaki.

Divindade suméria Rei Sumério Mapa Suméria

Os viajantes de Nibiru que chegaram à Terra são chamados Anunnaki e foram considerados deuses. A tradição conta que os Anunnaki possuíam "servos" que eram "seres andróides". Não eram seres vivos mas agiam como se fossem.

Zecharia Sitchin é linguista, perito em escrita cuneiforme (suméria) e em muitas outras linguagens antigas. Em 1976, publicou The Tewlfht Planet e assim começou sua trajectória transformadora da pesquisa da história antiga. Em 1993, lançou seu sexto livro, parte da série de Earth Chronicles (Crónicas da Terra) - When Time Began. Este último livro fala das relações entre o complexo calendário de Stonehenge, as ruínas de Tiahuanacu, no Peru, a antiga cultura suméria e, por extensão, a conexão desses monumentos antigos com os Anunnaki. Sitchin defende que os Anunnaki não são uma alegoria ou criação fabulosa dos sumérios; antes, são seres humanóides que habitam o misterioso planeta Nibiru.

A órbita excêntrica, extensa de Nibiru, faz com que o planeta passe milénios totalmente invisível à observação no centro do sistema solar. Zecharia Sitchin acredita que quando a posição de Nibiru é favorável, ciclicamente, os Anunnaki - habitantes de Nibiru - visitam a Terra e interferem no curso da história humana. O ano de Nibiru corresponde a 3 mil e 600 anos terrenos, período regular de intervalo entre as visitas dos Anunnaki.

Sitchin já decifrou mais de dois mil cilindros e fragmentos de cerâmica com inscrições da Mesopotâmia, alguns de 4.000 a.C., que fazem parte do acervo de museus de todo o mundo. Um desses fragmentos, que se encontra na Alemanha, indica que a Terra é o "sétimo planeta", contando a partir de Plutão. Ocorre que Plutão somente foi descoberto pela astronomia moderna no início do século XX. Como os sumérios poderiam saber de tal coisa?

O linguista acredita que, na antiguidade, seres conviveram com antigos mesopotâmicos e foram os "instrutores", os deuses da humanidade dos primeiros tempos históricos (pós-advento da escrita). Comparando as mitologias da Criação de diferentes culturas, verifica-se a coincidência dos mitos, que são recorrentes nas referências a uma "colonização" ou instrução das primeiras nações humanas por seres superiores, que vieram do espaço e se encarregam de ensinar aos homens primitivos as "artes" que caracterizam as civilizações.

Sempre buscando a identidade desses "instrutores celestes", Sitchin começou sua jornada pelo mundo das cidades antigas e dos grandes impérios do passado. Uma de suas conclusões mais significativas afirma a existência, em Marte, de uma estrutura alienígena, artificial, de forma piramidal, situada na região denominada Cydonia. Essa pirâmide não é a única; sua distância em relação a outra estrutura semelhante é proporcionalmente idêntica à distância que existe entre a Esfinge e as pirâmides do Egipto.

Essas relações entre pirâmides podem significar que elas servem como marcos topográficos para viajantes celestes, como os Annunaki, tanto na Terra quanto em Marte. Sitchin acredita que as pirâmides de Gize não foram uma realização dos egípcios. Em 1993 foi divulgada a descoberta de que a Esfinge é dois mil anos mais antiga do que se pensava, o que reforça a teoria de Sitchin.

O Buraco de Saddam

Polémico, Sitchin fundamenta suas teorias em rigorosas traduções dos textos sumérios, escrituras Védicas (indianas) e textos originais da Bíblia escritos em hebraico e grego. O local, na Terra, de chegada ou aterragem dos Annunaki é uma região chamada Eridu, sul do Iraque. A dificuldade de captura de Saddam Hussein decorreu do fato de que seu esconderijo, o "buraco" onde foi encontrado o ditador, é parte de uma pirâmide construída na antiguidade e desconhecida dos arqueólogos que trabalham naquele país.

O Céu do Hemisfério Sul

A NASA localizou uma maciço e negro objecto cósmico nos céus do hemisfério sul, fato que pode justificar a recente reactivação de telescópios na Argentina e no Chile. Sitchin, que visitou vários observatórios astronómicos da antiguidade, constatou que todos privilegiam a visão do quadrante sul e também estão localizados na mesma latitude da Terra. Muitos desses observatórios permitem medir com exactidão o nascer do sol e da lua. É possível que esse notável interesse pelo céu tenha sido motivado pela expectativa de um retorno desses que foram, no passado, considerados criadores e instrutores da raça humana.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pio XII: bendito ou maldito?


Pio XII foi eleito papa no mesmo ano em que a Segunda Guerra Mundial estourou: 1939. Até hoje não se chegou a uma conclusão sobre a postura do religioso durante o Holocausto. Afinal, a Igreja foi omissa? Uma reação firme teria evitado ou aumentado o número de inocentes mortos?
A reconciliação entre a Igreja e os judeus avançou mais nos últimos 40 anos do que em toda a História do cristianismo. Mas resta um grande obstáculo a superar: a campanha pela beatificação de Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, o papa Pio XII (1876-1958). Iniciada em 1965, a causa estava suspensa pelo Vaticano até outubro último, quando, durante a missa do aniversário de 50 anos da morte de seu antecessor, Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, argumentou pela retomada do caso. O problema é que líderes de organizações judaicas e famílias de sobreviventes do Holocausto acusam o sumo pontífice de omissão ante as atrocidades nazistas na Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939. Já o Vaticano assegura que Pio XII, que assumiu o papado há 70 anos, em março de 1939, atuou em silêncio para evitar o pior.

Essa controvérsia causaria surpresa para muitos judeus que viveram durante o conflito. Albert Einstein (1879-1955), um refugiado do nazismo, e a primeira-ministra israelense Golda Meir (1898-1978), por exemplo, expressaram publicamente sua gratidão ao Santo Padre por salvar judeus do genocídio. A polêmica só ganhou força em 1963, com a peça de teatro O Vigário, do protestante alemão Rolf Hochhuth, hoje com 77 anos. Nela, Pacelli era retratado como um sujeito calculista e sem moral, que ignorou o sofrimento dos judeus em nome de interesses próprios. É uma obra de ficção, embora ancorada em ampla pesquisa do autor. Até que ponto ela teria algo de verdade?

Essa é a pergunta que ainda hoje instiga os historiadores. Nos últimos anos, mais de dez livros foram lançados, com diferentes interpretações sobre a conduta do pontífice antes e durante o regime nazista. Em geral, eles podem ser divididos entre os pró e os contra Pio XII. Uns o acusam de ser cúmplice do Holocausto, enquanto outros garantem que ele atuou nos bastidores para salvar quantas pessoas pôde. Mas, antes de conhecer os argumentos dos dois lados, é preciso entender a situação do Vaticano nos anos anteriores à Segunda Guerra.

Igreja ameaçada

O poder dos papas vinha naufragando desde a Revolução Francesa, em 1789. Na época, a razão começava a reinar sobre a fé, e os Estados modernos estavam dispostos a separar a religião da política. Durante o século 19, as propriedades da Igreja foram saqueadas e seus territórios viviam sob constante ameaça. Em 1809, o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) chegou a sitiar o Vaticano e prender Pio VII (1742-1823). Na tentativa de diminuir o poder do catolicismo na França, ele manteve o pontífice confinado durante mais de quatro anos.

Napoleão foi derrotado em 1815, mas o processo de unificação da Itália botou as terras da Igreja novamente em risco. Em 1860, o rei piemontês Vitório Emanuel II (1820-1878) já controlava quase todos os domínios papais do centro da Itália. Nessa época, surgiram duas correntes dentro da Santa Sé. Uma delas insistia no poder papal absolutista: a outra queria repartir esse poder com Igrejas nacionais independentes de Roma. A primeira alternativa levou a melhor no Concílio Vaticano I. A Igreja proclama, em texto de 1870, o dogma do papa incontestável e infalível. Os líderes nacionalistas logo deram o troco. Na Alemanha, na Bélgica e na Suíça, ordens religiosas foram expulsas pelos governos locais e o ensino ficou nas mãos do Estado. Na Itália, manifestantes protestaram durante o cortejo fúnebre de Pio IX (1792-1878) e só não jogaram o caixão no rio Tibre porque os seguranças agiram rápido e salvaram o cadáver do papa.

Diplomata centralizador

Diante da crise, os novos líderes da Igreja tinham agora um duplo desafio: defender a integridade da instituição e recuperar o poder político entre os donos da Europa. Para isso, a Santa Sé investiu pesado na formação de diplomatas - entre eles Eugenio Pacelli, um romano nascido em 1876 numa família de juristas a serviço do Vaticano. Ele ajudou a reformular a legislação católica, a fim de conceder aos pontífices uma autoridade indiscutível. Em 1917, essas leis foram compiladas no Código de Direito Canônico.

Partidos fechados

O outro trunfo de Pacelli era um doutorado sobre as concordatas, nome dado aos tratados que a Santa Sé usava (e continua usando) para regular suas relações com os Estados - por exemplo, para garantir o direito da Igreja de controlar escolas religiosas ou celebrar casamentos. Em novembro último, o Brasil assinou um acordo desse tipo com o Vaticano, que gerou críticas de entidades contrárias ao ensino religioso em escolas públicas e a outros privilégios de caráter não-laico.

Durante décadas, o conteúdo desses tratados (em geral assinados pelo papa com os soberanos, ou por cardeais-secretários de Estado com embaixadores autorizados) tinha variado de acordo com o país. "Com o código de 1917, porém, a concordata virou um instrumento que impunha condições a bispos, padres e fiéis, sem consultas e em qualquer lugar do mundo", diz o jornalista britânico John Cornwell, autor de O Papa de Hitler - A História Secreta de Pio XII.

Foi uma dessas concordatas que o papa Pio XI (1857-1939) assinou em 1929, com o ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945): o Tratado de Latrão. Elaborado pelo irmão mais velho de Pacelli, Francesco, o documento reconhecia o Vaticano como Estado soberano e o catolicismo como a única religião da Itália. Em troca, fechava o Partido Popular Católico. Por quê? Simples: o Vaticano queria os fiéis fora da política para não prejudicar sua hierarquia e influência.

Muito antes de se tornar líder máximo dos católicos, Pacelli estava convencido de que a Igreja só permaneceria unida no mundo moderno com o fortalecimento da autoridade dos papas. Na década de 20, quando era embaixador do Vaticano na Baviera, ele tinha assinado esses acordos com a Rússia, a Letônia e a Polônia. Em 1933, já secretário de Estado do Vaticano, ele via no Tratado de Latrão o modelo perfeito para seu maior objetivo: uma concordata com a Alemanha, onde viviam cerca de 23 milhões de católicos.

O único problema era o chanceler Adolf Hitler (1889-1945). "Pacelli e Hitler nutriam um desprezo mútuo. Cada um se sentia ameaçado pelo potencial do outro de exercer poder mundialmente", escreve o jornalista americano Dan Kurzman no livro Conspiração contra o Vaticano. "Apesar da desconfiança, os dois viram vantagens - pelo menos temporárias - em frear o conflito com a assinatura de uma concordata em 1933." O acordo tornou todos os alemães sujeitos às leis canônicas e acabou com o Partido do Centro Católico, a única agremiação democrática que ainda restava no país.

Até aqui, não há grandes dúvidas a respeito do religioso. Os historiadores começam a se dividir a partir do momento em que o cardeal se tornou papa, em 1939. Afinal, ele foi omisso ou discreto durante o Holocausto?

Contra Pio XII

Para Cornwell, o italiano não foi apenas omisso; ele ajudou o Führer: "Como disse Hitler, numa reunião ministerial de 14 de julho de 1933, a garantia de não-intervenção de Pacelli deixava o regime livre para resolver a questão judaica". Isso não significa que Pacelli simpatizasse com o Partido Nazista. Ao contrário: não apoiava sua plataforma racista e via nele uma ameaça à religião. "Mas o temor ao nazismo era ofuscado por um medo ainda maior de Pacelli, o comunismo", diz o historiador Michael Phayer, da Universidade de Marquette, nos Estados Unidos. Foi com essa mesma lógica antimarxista que a Igreja apoiou ditadores como Benito Mussolini, na Itália, e Francisco Franco (1892-1975), na Espanha. Valia tudo para conter o "perigo vermelho". Até mesmo fazer um pacto com o diabo.

Mas o ponto é: Pio XII ficou mesmo em silêncio durante o Holocausto? Nem tanto. O papa falou, sim, mas poucas vezes e de forma ambígua. Nos discursos de Natal que fez em 1941 e 1942, por exemplo, condenou a violência, sem mencionar "nazistas" nem "judeus". No discurso de 1942, o mais importante, quando as atividades dos campos de concentração estavam no auge, ele afirmou: "A humanidade deve esse voto às centenas de milhares de pessoas que, sem qualquer culpa pessoal, às vezes apenas por motivo de sua nacionalidade ou raça, estão marcadas para a morte ou extinção gradativa". Foi o ponto máximo de seu protesto diante das atrocidades de um regime que, ao fim da guerra, teria matado cerca de 6 milhões de judeus.

A historiadora Susan Zucotti, da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, não tem dúvida: se Pio XII tivesse sido mais incisivo, teria ajudado a salvar muitas vítimas. No livro Under His Very Windows: The Vatican and the Holocaust in Italy ("Sob suas próprias janelas: o Vaticano e o Holocausto na Itália", sem edição no Brasil), ela lembra que os croatas fascistas eram muito devotos e, por isso, suscetíveis a acatar pedidos feitos pelo papa. "Como as autoridades da Igreja deixaram os católicos em ambiguidade moral ao não falar, a grande maioria deles se manteve como espectadora", afirma o historiador Michael Phayer em seu livro The Catholic Church and the Holocaust ("A Igreja Católica e o Holocausto", sem edição disponível no Brasil).

É certo que muitos católicos arriscaram a vida para esconder os judeus em suas casas, igrejas e escolas. No entanto, para Zucotti e Phayer, eles prestaram essa ajuda apesar do papa, e não por causa do que ele disse ou fez. "Pio XII fez relativamente pouco pelos judeus, quando eles necessitavam, e os católicos fizeram muito mais", diz Phayer. Os críticos do sumo pontífice também questionam por que ele nunca excomungou Hitler, Heinrich Himmler (1900-1945) e outros chefes nazistas, que eram católicos batizados. Essa simples ação, argumentam, teria tido um importante efeito sobre fiéis - algo de que os defensores de Pio XII duvidam.

Mais espinhoso que acusar o papa de omisso é considerá-lo antissemita. É o que faz o jornalista e escritor John Cornwell, que cita uma carta escrita por Pacelli na época em que ele era embaixador do Vaticano em Munique. Ao relatar seu espanto com uma manifestação de bolcheviques na cidade, ele se referiu ao líder do grupo, Max Levien (1885-1937), como "russo e judeu; pálido, sujo, olhos de drogado, vulgar, repulsivo". Na carta, ele também diz que a namorada de Levien era "judia" e que integrava “um bando de mulheres de aparência duvidosa, judias, como todos ali”. Pode ser coincidência, mas essa referência ao fato de serem judeus, em meio a descrições de repulsa física, é um velho clichê antissemita.

O historiador americano Daniel J. Goldhagen, autor do livro Uma Dívida Moral, vai além. Ele acusa a Igreja Católica de ser a maior responsável pelo racismo que desembocou no Holocausto. Para Goldhagen, a Igreja abrigou durante milênios o antissemitismo como parte integral de sua doutrina.

A favor de Pio XII

O principal argumento em defesa do papa é simples: se ele tivesse se posicionado com mais vigor, haveria retaliação. E alguns dos especialistas que dizem isso são judeus. “Uma condenação pública mais forte teria provocado represálias nazistas contra o clero católico na Alemanha e nos países ocupados. Também colocaria em risco a vida dos milhares de judeus escondidos no Vaticano, em igrejas e conventos da Itália, além dos católicos que os protegiam”, diz o rabino e historiador americano David Dalin, autor do livro The Myth of Hitler’s Pope (“O mito do papa de Hitler”, sem tradução).

De acordo com o rabino, Pio XII pediu às igrejas italianas que abrigassem judeus quando as tropas alemãs ocuparam Roma, em 1943, e assim evitou que milhares deles fossem deportados a Auschwitz. “Na cidade, 155 conventos e mosteiros abrigaram cerca de 5 mil judeus durante a ocupação alemã. E outros 3 mil se refugiaram em Castel Gandolfo, a residência de verão do papa”, afirma. Dalin rejeita a ideia de que Pio XII era antissemita: pelo contrário, ele o indicou ao título de “Justo entre as Nações”, utilizado em Israel para descrever não-judeus que arriscaram suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas. Afinal, Pio XII tinha motivos para temer por sua própria vida: Hitler planejava invadir o Vaticano e sequestrá-lo.

Outro defensor de Pio XII é o historiador e diplomata israelense Pinchas Lapide, ex-cônsul de Israel em Milão. Em sua obra Three Popes and the Jews (“Três papas e os judeus”, sem versão no Brasil), Lapide conclui que o líder religioso “foi instrumental para salvar pelo menos 700 mil judeus, e provavelmente 860 mil, da morte certa na mão dos nazistas”. Uma cifra exagerada, segundo os críticos. Seja como for, Lapide justifica a tese de “maior protesto, maior retaliação” citando o exemplo da Holanda, país onde os bispos católicos mais resistiram às perseguições nazistas. Em cada igreja, eles leram uma carta denunciando o “tratamento sem misericórdia aos judeus”. O resultado? “Enquanto os bispos protestavam, mais judeus, cerca de 110 mil, ou 79% do total, eram deportados aos campos de extermínio”, diz o historiador.

Os partidários do papa também argumentam que seu silêncio é uma falácia. Garantem que seus discursos de Natal foram entendidos como uma clara denúncia do extermínio judeu. E citam como prova os editoriais que o jornal americano The New York Times (hoje crítico do pontífice) escreveu na época. “A voz de Pio XII é a única no silêncio e na escuridão envolvendo a Europa neste Natal”, afirmava um texto, em edição de 1941. A homilia de 1942 teria deixado os nazistas furiosos, afirma o historiador irlandês Eamon Duffy, autor de Santos e Pecadores — História dos Papas. “A Alemanha considerou que o papa tinha abandonado qualquer pretensão de neutralidade”, diz.

Tem mais. Para o escritor americano Kenneth D. Whitehead, é ingênuo pensar que maior protesto de Pio XII levaria os católicos a se opor aos nazistas, como se os fiéis seguissem automaticamente suas recomendações — o que não ocorre nem com a proibição à camisinha. “O fato é que a maioria dos católicos alemães, especialmente no início, viu em Hitler o salvador de seu país, em meio à crise pela derrota na Primeira Guerra. Os nazistas chegaram ao poder de forma totalmente legal. Só depois impuseram um regime totalitário”, diz Whitehead no artigo The Pope Pius XII Controversy (“A controvérsia do papa Pio XII”, inédito em português).

Em meio ao debate, o papa Bento XVI decidiu congelar novamente a campanha de beatificação de Pio XII e aguardar até que seja feita uma pesquisa mais conclusiva e esclarecedora sobre sua história. Enquanto isso, o sucessor do polêmico papa, João XXIII (1881-1963), já foi beatificado e a campanha por João Paulo II (1920-2005) corre a passos largos.

Líder infalível

A abertura de arquivos do Vaticano sobre os anos do Holocausto seria o primeiro passo nesse estudo aprofundado sobre as ações de Pio XII durante a guerra, embora muitos considerem que mesmo isso não vá adiantar nada. “Se existisse um documento mostrando claramente o envolvimento de Pio XII em favor dos judeus, o Vaticano já o teria mostrado. E se algum outro revelasse que ele foi colaborador dos nazistas, com certeza, já teria sido removido”, diz o jornalista Anshel Pfeffer, do diário israelense Haaretz.

Segundo ele, a polêmica em torno da beatificação de Pacelli vai além do debate sobre fatos históricos e da disputa entre o Vaticano e as organizações judaicas. Ela também reflete uma disputa interna católica que vem desde o século 19: a briga entre os que defendem o poder papal infalível e os que o rejeitam. “As atitudes de Pio na guerra não são o principal argumento dentro do Vaticano para torná-lo santo. Os que o defendem preservam sua imagem de último líder católico conservador do século. Sua adoração é central para os que creem na versão mais extrema da infalibilidade papal”, diz Pfeffer.
No fim das contas, quem sabe o papa seja bem menos do que falam sobre ele — para o bem ou para o mal. Talvez seu grande problema tenha sido a obrigação de exercer, ao mesmo tempo, o papel de líder político e de chefe religioso numa época difícil, tendo que conjugar seu dever moral com os interesses de um Estado. Talvez ele tenha sido apenas uma pessoa ambígua, num período ainda mais ambíguo. Ou, quem sabe, o embaixador do Vaticano que virou Vigário de Cristo jogou com as regras da diplomacia, enquanto esperava com paciência pelo fim da guerra. A mesma paciência que, hoje, as pessoas precisam ter para saber quem realmente foi Eugenio Pacelli.


Enviados especiais
Hitler e Pio XII nunca se encontraram, mas usaram intermediários para negociar

Hitler e o cardeal Eugenio Pacelli (futuro papa Pio XII) foram os protagonistas da concordata de 1933, pela qual o Estado alemão e o Vaticano se reconheceram mutuamente. Mas outros personagens atuaram para facilitar o diálogo. Conheça alguns deles.

Pietro Gasparri

Esteve à frente da elaboração do Código Canônico e foi quem negociou com Benito Mussolini o Tratado de Latrão, na gestão do papa Pio IX. Em 1901, o monsenhor convidou Eugenio Pacelli (na época, um jovem padre) para trabalhar com ele na Secretaria de Estado do Vaticano. Nos 30 anos seguintes, Gasparri e Pacelli formaram uma parceria que arquitetou a política de concordatas e moldou o crescimento do poder papal ao longo do século 20.

Ludwig Kaas

Líder do Partido do Centro Católico alemão, era padre e íntimo colaborador de Pacelli. Em suas viagens constantes entre Berlim e Roma, foi uma peça-chave na negociação da concordata de 1933 — que extinguiu seu próprio partido para que o papa assumisse maior controle sobre os católicos na Alemanha. Também teria atuado em uma frustrada tentativa de aproximação com membros das Forças Armadas alemãs que buscavam uma negociação de paz, à revelia de Hitler.

Franz von Papen

Ultradireitista, de inclinações monarquistas, teve atuação importante na dissolução da República de Weimar. Foi chanceler alemão em 1932 e vice-chanceler após a subida de Hitler, para o que contribuiu diretamente. Manteve uma relação dúbia com o nazismo e foi quem assinou a concordata com Pacelli, na Secretaria de Estado do Vaticano, em julho de 1933.

Ernst von Weizsacker

Embaixador alemão no Vaticano, recebeu de Hitler a missão de encorajar Pacelli a manter a imparcialidade da Santa Sé durante a guerra. Comunicou ao papa que seu governo respeitaria a integridade do Vaticano e suas propriedades em Roma. A condição: ficar calado sobre as perseguições nazistas. Mas ameaçou instituições católicas suspeitas de abrigar judeus e socialistas.

Vaticano na linha de frente
Enquanto os EUA bombardeiam Roma, nazistas tentam raptar o papa

Em 9 de julho de 1943, Pio XII não teve dúvidas ao ouvir os estrondos que ecoavam em Roma: ele estava encurralado no meio da guerra. Apesar de seu esforço para que a capital italiana fosse declarada cidade aberta, aviões americanos bombardearam a cidade. O ataque precipitou a queda do ditador Benito Mussolini, que foi deposto duas semanas depois pelo rei Vitório Emanuel III e um grupo fascista rival. A situação piorou em setembro, quando os alemães ocuparam a Cidade Eterna e colocaram os judeus na mira. Eugenio Pacelli se viu num dilema: se protestasse contra a invasão, poderia sofrer uma represália violenta contra o Vaticano. Os alemães temiam que uma crítica do papa gerasse uma reação em cadeia na população italiana, o que colocaria em risco a ocupação. Mas Pio XII sabia que sua própria vida estava em risco, pois os nazistas planejavam sequestrá-lo. A advertência tinha sido feita pelo embaixador alemão na Santa Sé, Ernst von Weizsacker. “Os nazistas deram duas opções a Pio XII: selar os lábios ou o seu destino”, escreve o jornalista americano Dan Kurzman no livro Conspiração contra o Vaticano. Hitler tinha encomendado o sequestro ao general Karl Wolff, chefe das SS na Itália. A missão era invadir o Vaticano, raptar o papa e levá-lo à Alemanha ou ao território neutro de Liechtenstein. Mas Wolff titubeou. “Até então, ele havia atendido a qualquer ordem do Führer. Mas sequestrar o papa era uma loucura. Poderia colocar toda a Itália e a Igreja contra a Alemanha”, diz Kurzman. Wolff temia ser enforcado, se os aliados vencessem a guerra, e decidiu sabotar o plano de Hitler esperando se salvar com o apoio do papa. Deu certo. Pio XII também adotou dupla postura. Permitiu que judeus fossem abrigados em igrejas, mas nunca abriu a boca contra a ocupação, nem quando viu de suas próprias janelas milhares de judeus sendo amontoados em caminhões e deportados de trem rumo a Auschwitz.

Rota de fuga
Pio XII ajudou nazistas a escapar para a América do Sul

Ninguém sabe ao certo até que ponto Pio XII protegeu os judeus. Mas já não há dúvida de que ele ajudou nazistas católicos a escapar da Europa para Buenos Aires, na Argentina. A rota de fuga foi armada, logo após a Segunda Guerra, pelo Vaticano, a Igreja Católica argentina e o governo de Juan Domingo Perón (1895-1974). É o que afirma o jornalista argentino Uki Goñi, que rastreou o plano em arquivos da inteligência americana, da Cruz Vermelha e de países europeus. “Documentos que encontrei no Escritório de Registro Público de Londres demonstram que o papa sabia da fuga e intercedeu para evitar que alguns criminosos croatas chegassem à Justiça”, diz Uki, que conta essa história no livro A Verdadeira Odessa. A rede funcionava basicamente assim: o Vaticano pagava as passagens e dava passaportes com pseudônimos aos criminosos de guerra, e Perón lhes garantia o visto para entrar na Argentina. A Cruz Vermelha fornecia os passaportes. Os Estados Unidos e a Inglaterra não se intrometiam, mas as autoridades suíças foram além. Permitiram o trânsito ilegal dos nazistas por dentro de seu território. Foi graças a esse plano que Adolf Eichmann (1906-1962), Josef Mengele (1911-1979), Erich Priebke e outros genocidas encontraram um porto seguro na América do Sul. Eichmann só foi preso em 1960, em Buenos Aires (e enforcado depois pelo governo de Israel). Priebke foi localizado em 1991 no mesmo país (e condenado por tribunal italiano à prisão domiciliar). E Mengele morreu afogado em 1979, sob nome falso, no Brasil.

Relação tumultuada
Ao longo da História, a Igreja bateu de frente com a comunidade judaica

Século 4

O cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. O teólogo João Crisóstomo (349-407) qualifica os judeus de inimigos da raça humana. Diz que “a sinagoga é um bordel” e que “judeus são possuídos por demônios”. Em 325, o I Concílio de Nicéia culpa-os pela morte de Jesus — acusação só retirada em 1965, no Concílio Vaticano II.

Séculos 5 a 12

Na Europa medieval, o cristianismo avança sua hegemonia e surgem leis discriminatórias contra todas as demais práticas religiosas, principalmente o judaísmo. Espalham-se as lendas de que os judeus têm chifres e rabos e realizam rituais usando sangue de crianças cristãs.

Séculos 13 e 14

Em novembro de 1215, o IV Concílio de Latrão, convocado pelo papa Inocêncio III, obriga os judeus a usar distintivos sobre as roupas e os proíbe de exercer funções públicas e de casar com não-judeus — sete séculos depois, as mesmas medidas seriam adotadas pelos nazistas. A Inquisição condena judeus à fogueira e, para escapar, muitos procuram o batismo. Diversos papas apoiam a expulsão de judeus da Inglaterra, França, Holanda e Espanha.

Século 15

O papa Xisto IV (1414-1484) autoriza a rainha Isabel de Castela (1451-1504) e o rei Fernando de Aragão (1452-1516), chamados de os Reis Católicos, a criarem o Tribunal da Inquisição na Espanha. O alvo, nesse caso, são judeus convertidos ao cristianismo, os cristãos-novos.

Século 19

Na península Ibérica, colégios ainda proíbem pessoas “com sangue judeu ou mouro” de se matricular. No Brasil desse período, as ordens religiosas fornecem “atestados de pureza de sangue”, criados nos tempos da Inquisição. Alguns judeus falsificavam seus documentos para exercerem atividades comerciais.
AventurasnaHistória

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Misteriosa Civiliação tartéssica

Nos finais do século XVIII, o erudito antiquário D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas-Boas, bispo de Beja, recolheu as primeiras inscrições onde se encontra gravada a escrita ibérico-tartéssica. Desde essa época várias tem sido as tentativas para ler estes textos, os quais, porém, tem permanecido indecifráveis até a actualidade. Alguns investigadores supõem que os caracteres são de origem fenícia; outros afirmam que a língua gravada nestas inscrições deriva do grego pré-clássico; outros ainda crêem que se trata de um idioma de origem peninsular, aparentado com a língua de que deriva o actual basco.

Durante mais de um século, e apesar de terem sido recolhidas algumas dezenas de inscrições, ignorou-se a sua função, facto que mais dificultou qualquer tentativa de decifração do texto. A partir de 1970, porém, os arqueólogos portugueses conseguiram localizar, no Sul do País, um grande número de monumentos funerários, onde foram recolhidas algumas destas inscrições. Foi assim levantada uma ponta do véu que cobria este problema: as misteriosas inscrições são lápides funerárias. A localização e estudo destas necrópoles veio permitir a identificação da área ocupada por este povo com o Sul do Baixo Alentejo e Algarve. Desconhecia-se também a época em que teria florescido esta civilização. Escavações realizadas nestes monumentos permitiram situá-los entre os finais do século VIII e o século V a. C. e o apogeu desta civilização deve ter-se verificado entre os séculos VIII e V a. C.

Nas sepulturas foram encontradas armas de ferro, cerâmicas de origem mediterrânica, jóias fenícias, anéis com escaravelhos egípcios, todos objectos provenientes do Mediterrâneo Central e Oriental.

Porém, a atribuição desta cronologia levantou outro problema.

Quem era o povo que, entre os séculos VIII e V a. C., desenvolveu uma cultura tão brilhante nos confins ocidentais do mundo Mediterrânico?

As fontes clássicas apenas referem, no que respeita a Península Ibérica, o reino de Tartessos, que a maioria dos arqueólogos pretende localizar na zona da bacia do Guadalquivir. Curiosamente, esta civilização entrou em declínio no século VI a. C., logo após a Batalha de Alalia, onde os Cartagineses derrotaram os Gregos, vedando-lhes a passagem para ocidente das Colunas de Hércules.

Nessa época, segundo os autores clássicos, tem inicio o ocaso da civilização tartéssica.

Estamos, portanto, perante um mistério ainda por decifrar se se trata de vestígios do reino de Tartessos, onde se encontram as suas cidades? Se, por outro lado, se trata de uma civilização diferente da tartéssica, quem foi o povo que a originou, um povo que no século VIII a.C. possuía já uma escrita e que não é mencionado nas fontes clássicas?

Apenas o prosseguimento das investigações poderá, no futuro, dar resposta a estas perguntas.

Portugal secreto

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os Essênios e Jesus

Texto de Marcos Paterra

Olá pessoal!

Elaborando algumas pesquisas, achei coisas interessantes sobre Jesus e os Essênios.

Muitos talvez não saibam… Mas os Essênios eram originários do Egito e durante a dominação do Império Selêucida, em 170 a.C, formaram um pequeno grupo de judeus, que abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às margens do Mar Morto e outros locais, na Palestina e no Egito.

A Doutrina do Deserto

Eles respeitavam a vida acima de tudo, escreveram os mais antigos textos bíblicos e influenciaram o cristianismo. Com vocês, os essênios.

Por Rafael Kenski e Duda Teixeira

Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos secretos do Vaticano. Estava à procura de livros que teriam influenciado São Francisco de Assis. Curioso e encantado vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com pergaminhos e papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos originais de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer escondidos para sempre. De todas essas raridades, uma obra em especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho Essênio da Paz. O livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o principal líder de uma seita judaica até então pouco comentada – Os Essênios. Szekely não perdeu tempo. Traduziu o texto publicou-o em quatro volumes. Sentindo-se traída pelo pesquisador, a Igreja o excomungou.
Não foi uma punição tão grave. Considere o que aconteceu com o reverendo inglês Gideon Ouseley. Em 1880, ele achou um manuscrito chamado O Evangelho dos Doze Santos em um monastério budista na índia. O texto em aramaico – a língua que Jesus falava – teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados.

Manuscrito achado no
Vaticano afirma que Jesus
era essênio e vegetariano

Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Cristo era um essênio que defendia a reencarnação e o vegetarianismo. Se hoje essa tese soa estranha, dizer isso na Inglaterra vitoriana do século XIX era blasfêmia da pior espécie. Resultado: os conservadores atearam fogo na casa de Ouseley e o original foi destruído.
O mistério que envolve esses dois textos e o tom místico que os descobridores deram aos seus achados acabaram manchando seu crédito diante dos historiadores. Além do mais, teorias exóticas sobre Jesus é o que não falta. Em 1970, o pesquisador inglês John Allegro, que já havia estudado os essênios, tentou provar que Jesus nunca havia existido e que teria sido uma alucinação coletiva causada pela ingestão de cogumelos. Por motivos óbvios, essa teoria não foi muito bem aceita pelos seus colegas cientistas. Segundo eles, Allegro entendia mais de cogumelos do que de Cristo.
Para os historiadores, os essênios seriam até hoje uma nota de rodapé na História se, em 1947, dois pastores beduínos não tivessem por acidente levado a uma das maiores descobertas arqueológicas do século. Escondidos em cavernas próximas ao Mar Morto, em Israel, 813 manuscritos redigidos pelos essênios a partir de 225 a.C.

O ano 68 da nossa era guardava as mais antigas cópias do Antigo Testamento, calendários e textos da Bíblia. Perto das cavernas, em Qumran, estavam as ruínas de um monastério essênio e um cemitério com cerca de 1200 esqueletos, quase todos masculinos.

O surgimento da doutrina essênia aconteceu em tempos conturbados. Os judeus viveram sob dominação de diversos povos estrangeiros desde 587 a.C., quando Jerusalém foi devastada pelos babilônios, habitantes da atual região do Iraque. Por volta do século II a.C., o domínio era exercido pelos selêucidas, um povo grego que habitava a Síria. A cultura helenista proliferava e a tradição hebraica sofria fortes ameaças. Para recuperar o judaísmo, os israelitas acreditavam na vinda do Messias que chegaria ao final dos tempos para exterminar os infiéis e salvar os seguidores da Bíblia.

Eles possuíam pomares e hortos irrigados pela água da chuva, que era recolhida em enormes cisternas e servia como bebida. Além dela, as bebidas essênias se resumiam ao suco de frutas’ e “vinho novo”, um extrato de uva levemente fermentado. No shabbath, os sectários deveriam passar o dia inteiro em jejum.

•retirado de: www.pentaculos mágicos.com.br
Em abril de 1947, no vale de Khirbet Qumran, junto às encostas do Mar Morto, Juma Muhamed, pastor beduíno da região, recolhia seu rebanho quando ao seguir atrás de uma cabrita desgarrada percebeu que havia uma extensa fenda entre duas rochas.Curioso, atirou uma pedra e ouviu o ruído de um vaso se quebrando. No vaso, encontrou pergaminhos.

Este momento caracterizou-se como um marco para o mundo arqueológico: A Descoberta dos Manuscritos do Mar Morto.

Desde então, a tradução e divulgação do seu conteúdo têm atraído a atenção mundial, e uma grande expectativa tem se instaurado quanto a possíveis segredos ainda não revelados.

O nome Essênios deriva da palavra egípcia Kashai, que significa “secreto”. Na língua grega, o termo utilizado é “therepeutes”, originário da palavra Síria “asaya”, que significa médico.

A organização nasceu no Egito nos anos que precedem o Faraó Akhenathon, o grande fundador da primeira religião monoteísta, sendo difundida em diferentes partes do mundo, inclusive em Qumran. Nos escritos dos Rosacruzes, os Essênios são considerados como uma ramificação da “Grande Fraternidade Branca”.

Segundo estudiosos, foi nesse meio onde esteve Jesus no período entre seus 13 e 30 anos. Alguns estudiosos também acreditam que a Igreja Católica procura manter silêncio acerca dos essênios, tentando ocultar que recebeu desta seita muitas influências.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Por que o Natal é comemorado em 25 de Dezembro?

Parece incrível, mas a escolha da data não tem nada a ver com o nascimento de Jesus. Os romanos aproveitaram uma importante festa pagã realizada por volta do dia 25 de Dezembro e "cristianizaram" a data, comemorando o nascimento de Jesus pela primeira vez no ano 354. A tal festa pagã, chamada de Natalis Solis Invicti ("nascimento do sol invencível"), era uma homenagem ao deus persa Mitra, popular em Roma. As comemorações aconteciam durante o solstício de inverno, o dia mais curto do ano. No hemisfério norte, o solstício não tem data fixa - ele costuma ser próximo de 22 de Dezembro, mas pode cair até no dia 25. A origem da data é essa, mas será que Jesus realmente nasceu no período de fim de ano? Os especialistas duvidam. "Entre os estudiosos do Novo Testamento e das origens do cristianismo, é consenso que ele não nasceu em 25 de Dezembro", afirma o cientista da religião Carlos Caldas, da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Na Bíblia, o evangelista Lucas afirma que Jesus nasceu na época de um grande recenseamento, que obrigava as pessoas a saírem do campo e irem às cidades se alistar. Só que, em Dezembro, os invernos na região de Israel são rigorosos, impedindo um grande deslocamento de pessoas. "Também por causa do frio, não dá para imaginar um menino nascendo numa estrebaria. Mesmo lá dentro, o frio seria insuportável em Dezembro", diz Caldas. O mais provável é que o nascimento tenha ocorrido entre Março e Novembro, quando o clima no Oriente Médio é mais ameno.

Mundo Estranho

Quando e por que o Papai Noel passou a simbolizar o Natal?

O mito do bom velhinho foi inspirado em São Nicolau, um bispo católico que viveu no século 4 na cidade de Mira, actual Turquia. "Ele ficou conhecido em todo o Oriente por sua bondade e pela atenção com as crianças", afirma o frei Luiz Carlos Susin, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Diz a lenda que Nicolau presenteava as crianças no dia de seu aniversário, em 6 de Dezembro. Nos séculos seguintes, o mito se espalhou pela Europa e a data da entrega de presentes acabou se confundindo com o nascimento de Cristo. "Quando a história chegou à Alemanha, no século 19, o velhinho ganhou roupas de inverno, renas, um trenó de neve e uma nova casa: o Pólo Norte", afirma Luiz.

Nessa época, Noel ainda era representado como um homem alto e magro com roupas que variavam de cor - dependendo do relato, elas eram azuis, amarelas, verdes ou vermelhas. A silhueta rechonchuda, o rosto barbudo e os trajes vermelhos que conhecemos hoje apareceram pela primeira vez na revista americana Harper’s Weekly, em 1881. A figura, desenhada pelo cartoonista Thomas Nast, sofreu uma nova transformação em 1931. Na criação de um anúncio para a Coca-Cola, o desenhista Haddon Sundblom acrescentou um saco de presentes e um gorro ao personagem. A série de comerciais que mostrava Noel metido em situações engraçadas para entregar seus brinquedos rodou o mundo, popularizou essa imagem e, claro, turbinou as vendas do refrigerante.

O nome Santa Claus, como Noel é conhecido em inglês, é uma adaptação de Sinter Klaas, forma como São Nicolau era chamado pelos holandeses, que levaram suas tradições natalinas para colónias na América no século 17 (entre elas a região da cidade de Nova York). Já por aqui, a origem da expressão "Papai Noel" tem raízes no idioma francês, no qual Noël significa "Natal". Ou seja, no Brasil, o bom velhinho ganhou um carinhoso nome que significa literalmente "Papai Natal".

Lar gelado

Finlandeses dizem que o bom velhinho mora na Lapónia

A lenda de que Noel vivia no Pólo Norte, onde comandava sua oficina de brinquedos, serviu para os finlandeses estimularem o turismo local. Na década de 1950, o governo construiu uma vila de madeira na cidade de Rovaniemi, na região da Lapónia, que acabou se tornando o lar oficial do Papai Noel. Quem decide enfrentar o rigoroso inverno Árctico pode entregar seus recados pessoalmente a um duplo do bom velhinho, que recebe aproximadamente 700 mil cartas por ano - quase todas, é claro, com pedidos de presentes.

Mundo Estranho